Campeãs do Campeonato Mundial 2015, Àgatha/Bárbara são prata, e única dupla a estar nos dois pódios do vôlei de praia |
Mas, aos poucos, a dor passou. Passou porque Àgatha/Bárbara foram além. Considerado o time "número 2" do Brasil na Rio 2016, superaram a desconfiança. Em teoria, Juliana/Maria Elisa, pelo histórico, seriam a segunda dupla a garantir vaga para os Jogos.
Em 2011, quando a parceria foi formada, talvez nem elas imaginariam que chegariam tão longe. Foram subindo degrau por degrau. Começaram a se destacar no Circuito Brasileiro, se qualificaram para o Circuito Mundial. Em 2013, passaram pelo esquisito sistema de seleção, onde foram separadas, na semana seguinte em que conquistaram o primeiro título do Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia. Mesmo assim, Àgatha com Maria Elisa e Bárbara com Lili, continuaram trabalhando. Meses depois, Bárbara foi bronze no Campeonato Mundial de Stare Jablonki, competição mais importante daquele ano.
Com a extinção de ideia de separar parcerias, Àgatha/Bárbara refizeram o time. Em 2014, vieram outras vitórias em etapas nacionais, mais um título de Circuito Brasileiro, o primeiro ouro em Circuito Mundial, e uma segunda colocação geral no ranking mundial da temporada.
Em 2015, seguiram em evolução. Bronze dois anos antes, desta vez Bárbara foi ouro, com a parceira de origem, no Campeonato Mundial da Holanda, naquele que era então o ápice da dupla. Com a boa pontuação da etapa, aliada ao primeiro título de Grand Slam, o de São Petersburgo, foram as campeãs da temporada internacional.
Com a prata conquistada ontem, se tornaram o único time do atual ciclo olímpico a estar no pódio do Campeonato Mundial e olímpico. Como bônus, ainda foram vice-campeãs do evento-teste, disputado ano passado.
Muito se falou das três tentativas de Robson Conceição para se chegar ao ouro. Com 33 e 29 anos, respectivamente, Àgatha e Bárbara podem ter, no mínimo, mais uma chance subir uma posição no pódio. Se não conseguirem, já estão eternizadas como a dupla que levou o Brasil a uma decisão olímpica, após 12 anos de jejum. Serão lembradas como a parceria que jogou feliz, com muito sorriso no rosto, num jeito bem brasileiro de ser. Mesmo ainda em meio ao misto de dor e alegria, o semblante no pódio não deixou de aquele que é a marca registrada da dupla.
Laura Ludwig e Kira Walkenhorst foram melhores e mereceram o ouro. Mesmo alemã, Ludwig não deixa de ser um pouco brasileira: na aparência física, no português que aprendeu a razoavelmente falar, na raça que tem dentro de quadra e na simpatia em tratar torcedores e jornalistas. Assim como Robson Conceição, precisou de três Olimpíadas para chegar ao ouro.
Walsh, que se redimiu da única derrota da carreira olímpica, venceu Larissa/Talita e festejou muito o bronze, mesmo com três ouros no currículo. E também não deixa de ser uma pouco brasileira: é treinada por um técnico que nasceu no Brasil, tem vários amigos no país e ganha sempre o carinho e o respeito dos torcedor que está na arquibancada. Na verdade, Walsh é uma espécie de Michael Phelps ou Usain Bolt: dispensa nacionalidade. Seria, no mínimo, estranho ver o pódio olímpico sem ela.
Talvez, o tão sonhado ouro, que não veio ontem, venha com Alison/Bruno Schmitd hoje. Assim como o Àgatha/Bárbara, foram campeões do Campeonato Mundial ano passado e podiarão na Olimpíada do Rio.
Podem ser ouro? Sim. Podem terminar com a prata? Sim também. Como disse a um amigo nesta semana, precisamos mudar o conceito de que somente o ouro serve. Talvez, a partir daí consigamos avançar um pouco na nossa cultura esportiva e nas colocações do quadro de medalhas.
Para quem não acompanha vôlei de praia e não conhecia Àgatha/Bárbara, elas se apresentaram muito bem aos brasileiros. Para quem acompanha, saltar do primeiro ouro em Circuito Mundial para uma prata olímpica, em apenas dois anos, é algo que supera qualquer tipo de dor.