terça-feira, 21 de junho de 2011

Passada a euforia das vitórias, com a adrenalina bem mais controlada, volto novamente a escrever sobre os dois ouros brasileiros conquistados ontem na Copa do Mundo de Vôlei de Praia em Roma.
E por mais que me esforce para não fazer esse tipo de comparação forçada entre vôlei e futebol, sempre acabo encontrando argumentos que me induzem a mudar de ideia e expor meu pensamento crítico em relação à gritante disparidade entre as duas modalidades.

Em 2010, nessa mesma época, a seleção brasileira de futebol disputava a Copa do Mundo da África do Sul. Não éramos os favoritos, mas contávamos com os badalados Robinho, Júlio César, Kaká, Luis Fabiano... Por ser Copa e envolver a grande paixão do torcedor brasileiro, espaço na mídia não faltou: rádio, TV, jornal, internet. Por um mês a imprensa esportiva brasileira viveu disso.

Dinheiro e patrocínio não eram problemas à CBF e aos jogadores da amarelinha. Foram 10 patrocinadores e uma receita em torno de R$ 220 milhões, aproximadamente R$ 18 milhões mensais. Além disso, era jogador virando garoto propaganda aqui, expondo outra marca ali e conseguindo facilmente tirar mais um "por fora".

O patriotismo não faltou: crianças pintavam as ruas, adultos espalhavam bandeirinhas pelo bairro, o comércio fechava as portas, tudo em apoio e reconhecimento aos nossos representantes nacionais.

Mas, tudo por tão pouco. Já manifestando a "morte do futebol brasileiro", como publicou uma revista inglesa na semana passada, os escolhidos de Dunga acabaram por colocar fim aquele pequeno orgulho que ainda restava (pelo menos em mim, que desde 2002 perdi o encanto por aquilo que ainda teimam em chamar de seleção). 

Dessa vez na Itália, mesmo local onde a seleção masculina de vôlei havia sido campeã mundial poucos meses após o fracasso brasileiro na África, uma outra Copa do Mundo acontecia.

Badalação? Sim, em cima de Juliana e Larissa que, após o título de ontem, passarão a carregar toda a pressão do ouro olímpico nas costas, que se não vier vai ser o maior "vexame" de Londres.

Espaço na mídia? Sim, duas TV's cobrindo. Uma fechada e outra aberta, que só é acessível à quem tem antena parabólica em casa. E, por direitos de transmissão, nada de cobertura via internet nesse segundo canal.

Dinheiro? Patrocínio? Isso é luxo para jogadores de vôlei de praia. Para aqueles que ainda os tem é melhor garantir a sequência de bons resultados para não ver o contrato abruptamente rompido. Para os que nenhum apoio recebem é melhor ir encerrando parceria, vendendo carro, fazendo empréstimo em banco, perdendo preparador físico, técnico e afins.

E mesmo assim, numa situação tão conflitante, eis que temos um novo esporte a nos fazer estufar o peito e cantar juntos com muito orgulho o hino nacional. Um esporte, que por um dia (aliás, dois), ganha espaço no Faustão, no Fantástico, no Jornal Nacional, nas primeiras páginas de jornais.

Para os críticos: "Ahhh, que nada. Foi só uma competição como outra qualquer. Quero ver mesmo é nas Olímpiadas."

Mas, para aqueles que não têm a maligna cegueira futebolística, os ouros de Juliana/Larissa e Alison/Emanuel servem para liquidificar novamente aquela lágrima há tempos escondida em nossos olhos e mostrar que de uma vez por todas o vôlei virou sim o nosso orgulho nacional.
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