sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Quando recebi a notícia que teria que fazer um artigo como trabalho final de período, resolvi falar de uma das coisas que mais discuto aqui no blog: a super valorização do futebol e a falta de reconhecimento de vôlei na imprensa esportiva brasileira. Em julho, após o encerramento da Copa do Mundo de futebol, já havia escrito sobre o assunto no post Vôlei x Futebol: Realidades opostas em tudo.

Realidades distintas entre os dois esportes brasileiros.
No artigo que escrevi, intitulado “Imprensa esportiva brasileira: breve reflexão sobre as diferenças de cobertura entre o vôlei e o futebol pelos meios de comunicação nacional, discuto os motivos e consequências dessa desigualdade na mídia. 

Através da leitura de artigos, livros e sites procurei discutir essa diferença sob alguns pontos de vista que vão muito além da consideração simples e generalizada em que define o Brasil como o país do futebol.

A verdade é que, muito mais que paixão nacional, o futebol trata-se de um esporte cercado de interesse comercial. 

Após o boom capitalista, com o surgimento da Lei Zico, promulgada em 06 de julho de 1993 pelo então presidente da república, Itamar Franco, as cifras movimentadas por conta dos gramados fazem com que o futebol seja o grande filão da imprensa esportiva brasileira. Canais de TV, sites, jornais, rádios, empresas de marketing esportivo, empresários e muitos outros faturam milhões e milhões anualmente. 

Segundo o Plano de Modernização do Futebol Brasileiro da Fundação Getúlio Vargas (2000), a indústria do futebol gira em torno dos 250 bilhões de dólares por ano. No Brasil, cerca de 200 partidas da Série A do Campeonato Brasileiro são transmitidas, anualmente, por canais de tevê abertos e fechados, inclusive pelo sistema pay-per-view.

Resta aos outros esportes preencherem os buracos que sobram nas editoriais esportivas. 

E as consequências disso são desastrosas para os demais esportes. Na década de 90, como forma de adaptação do voleibol aos moldes de transmissão, mudanças significativas foram aderidas: partidas com uma duração menor para adequação à grade, bolas coloridas permitindo uma melhor visualização pelos telespectadores, um jogador especialista na defesa para aumentar o tempo do rally, maior interatividade dos técnicos junto aos atletas e o tempo técnico foram algumas das mudanças propostas para a melhoria do espetáculo junto à TV.

Mas, mesmo sendo repensado, o voleibol não conseguiu conquistar espaço nos meios de comunicação nacionais. Nos últimos anos, o vôlei brasileiro conquistou o ouro olímpico em todas as suas modalidades: no masculino em Barcelona 1992 e Atenas 2004, no feminino em Pequim 2008, no feminino e no masculino de praia, em 1996 e 2004, respectivamente. Além disso, somam-se os vários títulos mundiais tanto na quadra, quanto na praia. 

Porém, nem isso muda a realidade do esporte. Com exceção dos jogos das seleções, e aqueles que são transmitidos pela madrugada, que não “atrapalham” a grade de programação, vê-se vôlei na TV aberta apenas em raríssimas ocasiões, como as decisões da Superliga e as finais do Circuito Mundial de Vôlei de Praia, na etapa brasileira. 

Em decorrência de pouquíssima exploração pela mídia, alguns times de voleibol atravessam graves dificuldades financeiras nesses últimos anos, inclusive com términos de contratos com patrocinadores, como no caso no Osasco/Bradesco, em 2009.

Em 2008, o drama de Márcio e Fábio Luiz foi um dos mais claros e chocantes. A dupla, vice-campeã olímpica, na volta de Pequim, foi à Brasília e suplicou um patrocínio ao presidente Lula.
 
Buscando reduzir o impacto da falta de cobertura do voleibol no país, a CBV adota alternativas para sanar a necessidade de cobertura das partidas, criando em meados de 2009, transmissões ao vivo em seu próprio site. Porém, o acesso a esse meio ainda é privilegiado no país, o que não confere o público necessário a bons retornos para as marcas.

Campanhas como “Vôlei de TV aberta já”, lançada no Twitter, mobilizam jogadores, torcedores e dirigentes na busca pelo espaço ao esporte. 

Conclui então, que o predomínio do futebol na cobertura esportiva brasileira vai muito além das preferências do torcedor. Trata-se de uma questão mercadológica, em que cifrões definem as escolhas de transmissões. 

E, cada vez mais enraizados na relação capital/sobrevivência, os jornalistas esportivos brasileiros se vêem na difícil missão de cobrir os assuntos que geram renda e lucros aos seus empregadores.
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