quarta-feira, 6 de abril de 2011

Eu não ia escrever sobre isso, mas expressar minha opinião em apenas 140 caracteres não foi o suficiente. Tentei me segurar ao máximo, não consegui e entro na polêmica também.

Grande polêmica envolvendo Michael. Foto: CBV
Está "bombando" na mídia o caso de homofobia contra o central Michael, do Vôlei Futuro. Além disso, o time de Araçatuba reclama da super lotação do Ginásio do Riacho, do Sada/Cruzeiro, e da má receptividade aos jogadores, comissão e familiares da equipe visitante. A equipe mineira, em outra nota, nega os acontecimentos.
Acho justas as reclamações. Homofobia jamais deve existir, superlotação é uma coisa super perigosa e o boa educação aos visitantes são práticas incontestáveis. Porém, o caso Michael está tomando proporções, pelo menos no meio entendimento, que vão além do caso em si.

Tudo bem que o meu áudio não é o dos melhores (acompanho as transmissões pela internet), mas não cheguei a ouvir a torcida ofender Michael em coro como foi divulgado na nota oficial do Vôlei Futuro. Sendo ou não sendo feito em massa, a atitude é intolerável, é verdade. Mas, não tentando me posicionar a favor da torcida mineira, quantas vezes isso já não aconteceu? E não só no vôlei, mas no futebol, na ginástica, no basquete, etc.

Um exemplo básico e clássico: quantas vezes o Richarlyson não foi ofendido? Aliás, ele não, o time do São Paulo inteiro. E quantas vezes o São Paulo ou o próprio jogador aumentaram ainda mais a polêmica, principalmente em vésperas de decisões? Infelizmente, tais casos tratam-se de uma questão cultural, que não pode acontecer, mas, infelizmente acontece. É super comum ouvir em estádios ou em áudio da TV torcedores gritarem "viado", "filho da p.." "vai tomar..." e por aí vai. 

Sobre a questão em si, não há dúvidas. Não pode ser aceita.Temos que saber lidar com a escolha sexual, religiosa, política e seja lá o que for, das pessoas. Mas, é preciso também saber levar o assunto ao público e pensar na sua discussão.

Porém, o Vôlei Futuro está às vésperas de fazer o jogo mais decisivo do ano até aqui, as torcidas estão inflamadas nessa reta final de Superliga, a mídia está louca para conseguir pautas diferenciadas da competição e a nota oficial acabou por ser uma chama no pavio. Já li a notícia em diversos locais, mas nunca na abordagem que realmente informa, esclarece e concientiza sobre o fato. Li um título onde está escrito a declaração de Michael: "sou gay." O problema não é saber se ele é gay ou não, o problema é a homofobia recebida. Ou seja, os fatos estão sendo distorcidos. E, mesmo muito crítica em relação à mídia, dessa vez acho que ela não tem a parcela total de culpa nessa história. Tudo começou com a nota oficial divulgada pela equipe paulista, que só foi feita na segunda-feira (o fato ocorreu na noite de sexta).

Problematizar o acontecido da forma que foi problematizado pode trazer implicações sérias. O jogo de volta em Araçatuba desse ser bastante exaltado, inclusive por parte da torcida. E se o Vôlei Futuro vencer a partida, acontece um novo jogo em Belo Horizonte, colocando frente a frente novamente Michael e o torcedor mineiro. E aí a coisa pode ficar ainda pior.

A partida em si foi deixada de lado. E acho que o ato também. Na verdade, a polêmica é se posicionar contra ou a favor de Vôlei Futuro ou Sada/Cruzeiro.

Que o caso Michael sirva de exemplo para torcedores mal educados, mas que ele não atrapalhe o espetáculo e nem mude o foco das decisões masculina da Superliga.

Uma última pergunta: será que a polêmica vai servir de fato para eliminar o precoceito contra a escolha sexual do jogador ou vai prejudicá-lo ainda mais?

Acho que é uma situação muito complexa que está sendo tratada de uma maneira muito superficial pelo Vôlei Futuro, pela mídia, pelo torcedor e por muito mais gente.

Trechos nas notas oficiais:

Vôlei Futuro:
"Tratando-se da torcida do Sada Cruzeiro, esta atuou de maneira feroz e preconceituosa, mostrando ódio, aversão e discriminação a um dos atletas do Vôlei Futuro, deixando claro o manifesto de homofobia dentro do Ginásio. O coro era de forma organizada, crianças, homens e mulheres se juntaram para cometer o tremendo desrespeito e discriminação com o atleta Michael”.

Michael
"No jogo em Contagem eram cerca de duas mil pessoas, o ginásio estava super lotado e todos me chamando de “bicha”, “gay” e outras ofensas. Me senti ofendido e constrangido pelo ocorrido; não eram só alguns torcedores de torcida de futebol, eram crianças, mulheres, o ginásio inteiro gritando e me ofendendo. O jogo foi transmitido pela TV e não só quem estava no ginásio pode ouvir, mas todos que assistiram ao jogo pela TV no Brasil inteiro, depois da partida as pessoas em Araçatuba e de diversos lugares vieram me perguntar o que tinha acontecido e se mostraram muito solidárias. Eu poderia ter jogado melhor se não tivesse passado por esse constrangimento e me senti julgado pelo lado pessoal e não pelo profissional que sou. Acho que este tipo de acontecimento não deve passar em branco, realmente me fez muito mal, acho que deve ser divulgado e discutido para que isso não ocorra com mais ninguém."

Sada/Cruzeiro
"Refutamos as acusações e suspeitamos que tais “denúncias” sejam uma nítida manobra no sentido de intimidar a nossa equipe e nossa torcida no jogo da volta em Araçatuba, no próximo sábado. Adiantamos nesta oportunidade que a diretoria do Vôlei Futuro será responsabilizada e acionada nos competentes tribunais, caso haja algum ato de vandalismo contra a delegação do Sada Cruzeiro, em virtude do clima que se pretende criar com tais denúncias infundadas. Desde já cumpre-nos informar que o departamento jurídico do Sada Cruzeiro já está trabalhando no sentido de tomar as devidas providências.
Sobre a torcida, a equipe Sada Cruzeiro não incentiva e nem apoia atos considerados como preconceituosos. Ao contrário, sempre pede que todos sejam tratados com respeito. Após a partida, funcionários da equipe Sada Cruzeiro viram vários atletas do Vôlei Futuro, como Leandro Vissotto, Mário Jr e Michael tirando fotos e dando autógrafos para os torcedores, em sua maioria crianças e mulheres, num clima comum a um jogo de vôlei."
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